Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

quarta-feira, junho 29, 2005

Amor inspira dor

É o amor inspirador?
Pensando bem, não.
O amor a gente quer é viver e não fazer poesia dele o tempo todo.
Mas é a dor profundamente inspiradora.
E o amor inspira dor. Mesmo quando é bom.
E ai...

Zen -I

Aquilo tem de acontecer, porque senão eu me...porque se não eu...porque senão...não.

Acabou o tempo das condicionais. Há todas as condições para ser porque e não por que.

quinta-feira, junho 23, 2005

A importância de esquecer

São muitas coisas prá lembrar. Mas muitas, muitas mais pra esquecer. Não é que eu acredite, como Rubem Alves, que a gente precisa esquecer tudo que sabe pra aprender uma coisa nova, qualquer coisa. Mas é que ando percebendo a artrose que vai dando nos nossos impulsos quando a memória vai ficando carregada de tantas lembranças, arquétipos, formas e moldes que vamos arquivando pra sobreviver no mundo. As fórmulas com que pretendemos enrolar a vida pra não ser pisado por ninguém. Como assim: formuletas ingênuas, modos ideais que nos poupam do esforço diário de recriar interações, reações, novas intenções, mesmo que para velhos embates. Não se trata de ser só simplesmente “flexível”, nem se esforçar para incorporar um fake-espírito “forever Young”. É esquecimento mesmo, a palavra. Esquecer como nos posicionamos na cadeira austeramente pra não alongarmos demais o pescoço ao ter de atender o telefone, esquecer qual o lado do rosto que nos favorece e parar de “posar” numa simples conversa, ainda que não saibamos que o estamos fazendo, Esquecer de como éramos lindos e magros naquela época (foi depois disso que meus problemas começaram?). Esquecer de como funcionou bem fazer um tipo durona naquele episódio em que aquele cara lindo acabou se apaixonando por mim – e que aquela história que eu queria tanto que ainda existisse não foi pra frente na mesma época em que resolvi ser mais sincera em tudo. Esquecer que fomos crianças super espontâneas e cheias de “vocações”, que sempre ouvíamos dos “grandes” que ainda íamos “dar o que falar” – e que agora – dei? Não dei? E que agora se falam de mim é preocupante e serve, pasmo-me, pra regular a válvula mantenedora da lapidação do meu ego rumo ao right way of be...ai. É isso. Hoje acordei com muita vontade de diferença. E, surpreendentemente criativa pra fazer uma vitamina de café da manhã, uma vitamina de abacate com leite que quase sempre vomitei quando fui obrigada, durante toda a infância, a tomar, nauseada, tampando o nariz, tragada pelo olhar inquestionável da minha mãe. Dia sim, dia não. Hoje quis o abacate. Acordei com de-se-jo de abacate. E em uma fração de segundos um sinal amarelo acendeu na minha cabeça. O sinal da coerência. Plim. Tóim. Ai foi ruim. Porque pensei 5 vezes antes de fazer a vitamina, e 15 antes de tomá-la, pois pela lei natural de um pensamento “maduro”, ou da maturidade mesmo, eu deveria rejeitar a vitamina, já que agora sou dona do meu nariz- e posso optar. Mas...quantos alongamentos morais eu não estaria me permitindo se tivesse me liberado da memória pra, sem muitas delongas, seguir o desejo e tomar aquele bem-maldito copo de abacate com leite sem ter de passar por mais essa tortura psicológica que colocava em questão pelo menos 5 das minhas capacidades de ser – e já havia tomado a metade da minha manhã. Foi ai que pensei na importância de esquecer.

quarta-feira, junho 15, 2005

A parede- parte I

Agora que, num movimento a fórceps, busco resgatar aquela força convicta de continuar vibrando, a crença na “dignificação” do homem pela expressão criativa - pode? da operariedade, o vigor que se constrói da repetição, o bom humor do “bom brasileiro” que sofre, mas também dança, aquela doce consternção, enfim...quando, mesmo com certo esforço – era mais fácil fazer jogos de “existencialismo” na infância, quando me sentia “intensa” quando tomava decisões pro espírito – resolvi manipular minha fraqueza pruma causa nobre de vida, como, no caso, conseguir ser uma saudável trabalhadora que aproveita o “o momento” cheia de esperanças no futuro colorido da própria criatividade...mas me impacto quando percebo que, de minhas mãos que seguram o fórceps ferramenta, depois de longo esforço...não sai nada! Na-da. Me surpreendo. Me desolo de surpresa. Não entendo nada, mas lá lá sei que a fé me traiu. Não a minha. Ainda. Mas a fé que têm em mim. O retorno certo da boa intenção dos gestos não retorna. E isso era o mais certo, desde desde. Um sinal piscando dizendo “no money at all”. Nada. Niente. Saldo negativo. “No new message”. (.) . Fui traída. Abandonada. Me sinto como se tivesse sido deixada na estação de trem mais estranha, sem anfitrionagem alguma e nem um bodega aberta com um mapa ordinário pra vender. Ou na rodoviária mais fudida, para não me iludir com o romantismo da memória das belas estações de trem das histórias de Europas. Numa estrada besta e sem charme. Por alguns momentos, me paraliso. Só pode ser pra...tá faltando...deixa eu chegar prá trás, do outro lado tem...que ter. Deve ter. Não pode ser o que não pode ser. Me parece demasiadamente incrível que meus deuses fiéis, que sempre acreditaram de verdade em mim tenham, de repente, do nada, descoberto que se religiar-me é um sim um ópio maldito, uma alienação e um mau uso do dinheiro espiritual e tenham, de repente, buscado o retorno mais próximo em busca de empreendimentos mais “científicos” e promissores. Não, não. Isso cheira mal. A fidelidade é...Vai vir – deixa eu puxar mais um pouco. Não é assim. (...) Mas nem um ventinho sopra, nadinha.

Percebo que não devo parar, sinto um risco no tempo quieto, como quando, ao revés, as abelhas podem nos atacar ao sentir o deslocamento do ar quando nos atrevemos a respirar em sua presença. Portanto, “Não devo parar”. Mas tampouco teria alternativas de caminhos fora me jogar nos trilhos e ali ficar, sem nem uma plateiazinha de um real pra se divertir com algo que lhes fuja da rotina. “A agonizante estribuchada da jovem que caiu no trilho da estação sub-urbana – e não morreu”. Todo mundo se diverte com o mundo cão, em algum nível. Mas nem assim. E não movo. Me. Estou sozinha como nunca. Mas não vou chorar não, nãovouchorarnão, não-vou-cho... quando me deparo com uma estranha parede no passo (que dou só pra ver o...) o pé no ar, por se acaso não der. Cheia de heras cavalares, uma parede me de-para na frente. Um monstra parede de...mas de que porra é essa parede?! Me animo. É, já, uma reação dos ares. De: Ares / Para: mim. Me animo. É já alguma coisa.

segunda-feira, junho 13, 2005

Truth doesn´t make a noise

Metendo o pé na porta, mesmo fazendo barraco, sozinha, ridícula:“O barulho não será gratuito”
Ela alcança aquela porta e não hesita
“Se houver verdade ou se ela for convincente”
Só por um momento, um átimo que registre
Um pingo de instante insistente
Uma gota de tinta, que lhe faça dizer, merda, borrei
a que faça o desejo dar o primeiro choro: “existo”
E depois... não importa – que venham as dúvidas
Que se afogue tentando explicar, não importa
Ela tem-que-meter-o-pé-na-porta
Esperando encontrar
Tudo o que não pode ser como água
nem o gelo de projeções ancestr-“ais”,
“E que não seja fogo de palha”
Desafio, porque venta. Bobagem.
Ela tem que empurrar um encosto que passa na hora, com medo
“Deboche”, paralisias sabotantes, repteisções
Fátuo ou fato, importará? Bobagem.
Ela empurra com mais força o encosto que passa na hora
Que exista! “Se houver verdade ou se ela for convincente”
Extrato-relatório das vocações que não tenham virado ilusão

Por favor, "me permita meu pé esse chute”
“Preservarei a porta”
“Dobrarei bem dobradinho, guardarei”
“Darei os créditos”
De dia. “Em dia, é promessa”

Ela mete o pé na porta
Esperando encontrar...respira para não parar de respirar
“Essa falta de...” Alegria. Não, alergia. “Essa falta de...”

E qual não é sua surpresa, quando encontra estirada no sofá...(respira para não parar de respirar)

Sua imagem e semelhança. Uma pessoinha. Miniatura-regredidos 20 anos, ocupa um terço do móvel. Rindo e rindo, um canudo na boca. Velho, babado. Um olhar de não há assunto que me preocupe nessa existência, as mãos atrás da cabeça, um chinelo colorido num pé, agitado, o rádio ligado tocando ciranda, “não”, nirvana... no outro pé uma enorme bota de gesso.