Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

domingo, fevereiro 24, 2008

Dois mais dois no mato



“(...) é que vivo meiada pela política e pela arte. Pelo fluxo e pelo jogo. Pelo instinto e o culto. Sou traço sinuoso de cálculo e de sorte. Pode? Dividida, por um lado: holístico todo recorte. Maculada permissiva lancinante. Rogada de muito vacilante. Integrada às vezes por inteiro. Fractada pelas bordas cem meios termos. Estratégica virginiana sem rateio e também a máxima anti-cartesiana em pleno alto mar. Acordo com plena consciência de quanto tempo passou enquanto dormia. E em também pleno dia não sei se é tarde ou noite. Perco as contas de quanto desejo e desisto. Todo dia penso e dispenso. Abandono e me jogo. Descarto e resgato. Colo e descolo. Então, de repente: vírgula e ponto. Dois prá lá e dois prá cá, nunca o fim, mais ou menos sempre no meio de dois pontos. Podia dizer, se já não tivesse dito: Sou um pretensioso nada. Um discreto acerto. Um convincente vazio. Um poderoso cotidiano cheio de dias inúteis prá alguém. Um canteiro sem obra. Flerto com quase todas as coisas da ignorância. Crio toda uma situação para não dizer a que vim. E talvez me acometa toda a ingenuidade da sapiência. Sou essa coisa nobre e ‘lesco lesco` de querer entender. Que empolga e desgasta. Por vezes sem fim. (...) "



Bárbara Mercúrio - “O vôo e o cego” in “The weight of my words”

segunda-feira, fevereiro 18, 2008


Na Bolivia muitas crianças pedem dinheiro prá quem lhes tira fotos. Têm completa noção de quão valioso é o acesso a uma cultura milenar viva, fora do museo. Espanta o contraste da expressão de uma cultura tão própria com a revelação de que pouco a pouco aprendem direitinho a dançar conforme a nossa música plena de acordes acordos de mercado. Espanta a criatura que revela perceber os segredos alquimicos do criador. E mesmo o mais sensível turista se remexe na poltrona.

Ayê Chile


Ponta alongada do mundo
eixo sul da latinidade violência
com mar
alto mar
Piratas de terras litorâneas

Poetas


Há mais mistérios entre o pacífico e a terra
do que pode imaginar nossa atlântica sabedoria.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Viver e morrer na America Latina

... vou levar um milhao de historias e sonhos sim meu bem. Cores novas pra nossa casa continente. Dias, forcas e dores dos outros, que tantas vezes fizeram as minhas parecerem bobas, ainda que ainda tristes pelo meu proprio limite em relativizar/las. Sao das cores insistentes, da persistencia da alegria, do cultivo do tempo que faz tudo que preocupa meu futuro parecer bobo e cinzento, entende? Vai saber, ainda nao assentei essas terras. E sim, continuam sendo tristes as nossas dores, a ingenuidade da nossa alegria carnavalesca, mas seria dessa mesma fonte que beberia aquela esperanca em espanhol, em Quechua, em Aymara? Pela alegria somos irmaos?
E o cinza que vez por outra defendemos como tao importante de ser vivido, esses lutos intelectuais? Os meus tao se enfraquecendo de sentido. Ficando bobos, amarelados, turisticos. Tambem perderam muito de sua cor no meio do funeral que passei a beira do Lago Titicaca, na Bolivia, quando um grupo de entes celebravam com gargalhdas, pisco e flores a passagem a outra beira da vida de alguem que teve a oportunidade de bem morrer. Um luto preto, e nao cinza.