Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Melhor guiar seus passos pela necessidade

Alma corredeira
de madrugadas de vapor e lucidez
te chamo em chamas
como forma última de pedir "fica": por mim

Mastro impassível
observador assíduo de manhãs
te seduzo em mil desníveis

E me corrijo toda prá te ver anoitecer
mas você não tomba deveras

É assim

e por fim

se tece a linha fina que estoca
terra por fogo, água por ar

espera, mariposa, casulo, chachim
incubadora dos encontros daqueles mais vivos
que não agem no luzco-fusco das ações, mas um dia dizem sim.

Para Hilst.

domingo, fevereiro 20, 2011

Seppuku sem orgulho





"Vê a terra, filho? Parece areia, pedras e torrões, mas são braços e abraços".
Mia Couto, "Antes de nascer o mundo".










Os movimentos podem ter várias qualidades e proezas e dignidades de fracassos

Alçantes, giratórios, laterais, regressivos, dubitantes, pendulares... Altivos e claros pela evolução, desviantes, desistentes, firmes, oscilantes, aleatórios, inertes, óbvios.

Na marca do movimento incessante desliza expressiva a veia da intenção de seu ator, ou sua falta de pulso, o sangue correndo lento. Agitam o ar os frenéticos buscadores que se movimentam céleres, ou usurpam do mundo o oxigênio aqueles que decidem suspender tudo em seu entorno para, antes, respirar.

O movimento é dos tímidos e dos entregues, mas todos dançam a dança dos astros que não dormem em serviço.

O movimento não é bom nem ruim. Como o tempo que, simplesmente,

nem preto, nem branco, não pára.

O movimento é o pressuposto de sobrevivência da vida que, desde fecundada no corpo ou no universo, nunca pára de se movimentar, enquanto seja ainda... viva.

Por isso, o único movimento que não entendo bem, por sua incoerência intragantável é esse praticado a meia boca pelos que não assumem-que-não-sabem-se-querem-querer-andar-em direção... à vida.

Os que se se arrastam pelo mundo praticando com inércia a ética do movimento interrompido.

Que iniciam e mobilizam e abandonam qualquer gesto que lhes lembre que não se abandona ao céu um corpo na gravidade da terra.

Ninguém pediu para nascer, mas ninguém desinventa o amor quando ele vira movimento.

Que dure a dúvida ou que se mate a seiva, mas que se dê um bom sentido para esse suicídio sem honra, os praticantes do movimento interrompido em vida.