Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

terça-feira, maio 30, 2006

Yoga pro amor

Uma valsa para crianças se acende no meu quarto

Acordo no primeiro acorde


É a força da manhã préinvernal, que sustenta a disciplina


acordo com cheiro de mel

o peito cheio

pronta pro bom combate com a gravidade


escondo a minha arma e vou na contramão do trânsito

tentando retardar o confronto

com o trânsito, com o chefe, com a razão


sei que procuro ingenuamente o mistério


que caia no meu colo como um argentino doce no meu bairro


que me iluda que a cidade ainda se recupera

que o tempo me espera

que a vida não é assim tão séria


assim


músculos e articulações respiram melhor

quando te vejo subir pela janela


pelas cordas que me sustentam

te vejo pela fresta do olho


respiro melhor


mas você chega e não está comigo

all the time


tão perto assim

a física nos separa. Separa?


A comunicação nos separa. Separa?

O trânsito nos separa. Separa?


as cordas que me alongam nos separam

separam?


Temos séries diferentes.


Cada um com suas pausas diafragmais

cálculos decimais

signos verbais


suas cidades, seus chefes, e mistérios

músculos, línguas e razões

Nos separam?


Separam não.


Não estamos por um fio.


A física, a comunicação e as cordas nos sustentam.

terça-feira, maio 23, 2006

Dizque vale a pena

Entrei no parque de diversões

Tarde de sol, céu sem nuvens

Música para olhos e ouvidos


Palhaços, gnomos, algodões coloridos

Confetes serpenteando, purpurinas com roteiros decorados: praticamente um carnaval


Crianças semi-cegas apalpavam o tamanho da alegria

enquanto pais repressores, enfiando a vergonha na cueca,

entregavam os pimpolhos a deus. Enfim, sós.

(Pais no parque podem sentir-se “adolescentes” – tem que ter muita maturidade) - dizia na placa, junto com os preços na entrada


Mas eu nem vi o preço do ingresso

me chamaram, eu entrei


E passadas horas que nem sei mais ler, ganhei um relógio no tiro ao alvo. Gente entendida de psicologia, essa. Relógio de plástico. Só pra...

Pensam que não sei das coisas, que não sei que não sei por quanto tempo vou ficar no parque, com esse relógio que só uso porque eu sou mesmo uma pessoa elegante.


No trem fantasma e na montanha russa

quis chamar minha mãe e voltar pra casa dela

mas não voltei

perguntei pra quem sabia

fechei os olhos apertados, pra lembrar do meu sonho de antes


me juraram de pés juntos que

tinha carrossel e roda gigante

e pastel. e muita comida gostosa à tarde


e disso eu gosto. Gosto muito.

Adoroamo merendar no parque de diversões

e de cachorro-quente, pipoca e refrigerante também.


Acho que vou ficar por aqui.


Espero que a serpente se lembre que não basta trazer a maçã, ela tem que ser a do amor.

sexta-feira, maio 12, 2006

Easy rider´s not so easy

É difícil durar

É difícil segurar as coisas boas, disfarçadas de difíceis

É difícil prolongar a vida do que é nobre, mas que já nasceu cansado


É difícil

É difícil disfarçar que somos moles pras coisas difíceis

E duros prás acessíveis


Porque é fácil gostar do que ta longe

Mas é duro ter acesso às coisas nobres,

estejam elas numa vitrine ou num puteiro

No Japão ou debaixo de seu travesseiro

É difícil fazer durar porque

É fácil dizer não pra primeira frustração

Pra primeira diferença que aparece atrás da cortina

Dá trabalho enxergar as belezas invisíveis da rotina

É fácil dizer não, o não é o contrário da duração

Difícil é compreender e fazer durar

as coisas boas, nobres e difíceis

terça-feira, maio 09, 2006

Vênus em fúria

Não dá prá entender a burrice dos homens

Acham que machucar a outra com aparente falta de amor
Aumenta o amor de sua amada
Mesmo quando é ele quem ama demais

Fazer doer sua mulher de ciúme
Aproxima a senhora fugidia
Mesmo quando é ele que quer se aproximar mais

Fingir desprezo e menos querer
Instiga e aprimora a dedicação de sua ausente musa
Mesmo quando é ele quem precisaria estar mais perto

E se tudo isso não acontece por excesso de desejo de com ela estar, ai é que não dá pra entender mesmo (e é revoltante): fazem tudo isso com a plena conviccção de que é tática infalível de conquista, sem nem amor nem querer ter para oferecer à já confusa mulher.

Ai, ai.

Depois não entendem por que as mulheres têm preferido a complexidade de estar com mulheres simples, à simplicidade de estar com masculinos complicados.

sexta-feira, maio 05, 2006

Curva perigosa

Tudo bem que você me saque

A dois mil por hora

nessa auto-estrada em que fujo da esquina

Violenta das encruzilhadas

Calmaí.


Esse brilho dos meus olhos não é um sinal verde


Andei chorando


Já secou,

mas agora

meu coração é uma pista escorregadia

cheia de pisca-alertas

Gritando no escuro


Por favor use seu freio