Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

domingo, dezembro 23, 2007

Dar um passo para o mundo sair do lugar

Amigos,
sempre fui melhor de análises do que de sínteses. Creio que porque poucas vezes achei melhor compilar do que explicar. No entanto, gosto muito dessas datas arbitrárias que nos incitam a algum esforço para revisões, resumos, sínteses. Talvez por isso mesmo: vésperas, aniversários, ano novo, despedida, dia de resultados, véspera do resultado, chegadas, o dia seguinte, nascimentos, o dia D, casamentos, natal... tudo isso é uma grande oportunidade para esse exercício às vezes inclemente, mas necessário de fazer algumas sínteses. É que algo assim que nos faça parar e pensar no que a gente quer de verdade é mais difícil do que parece nesses tempos em que a gente quer tanta coisa. Mas essas datas, penso, acabam também sendo uma forma de separar o vivido (muitas coisas) do desejado (algumas coisas), isso eu acho muito bom. Que o natal é uma data cristã e nem todos nós somos cristãos; que o ano novo é uma convenção e o mundo é novo a cada dia; que é o comércio quem mais nos parece lembrar a importância de "ser generoso" nessa época: tudo isso é verdade. Mas também é verdade que é nossa época que quase todos nós – mais ou menos religiosos, mais ou menos capazes de renovação, mais ou menos generosos paramos por alguns momentos e mais ou menos pensamos num trecho de vida vivida. Ai somos capazes de olhar prá trás, re-ver, numa época em que tudo nos incita ao novo (mesmo que seja requentado), ao empreendeedorismo (mesmo que não seja novo), ao projeto (mesmo que não venha a se empreender), ao futuro ladeira arriba. Sim, meus amigos, vale dizer que um ano passado embutido na comemoração de um ano novo é mesmo uma convenção para tudo isso. E também é mesmo verdade que nossa capacidade de olhar para trás deveria ser algo manejável a qualquer momento, e tão instintivo como a mirada nossa de cada dia umbigo adentro, e que o fato de ser depois de um ano – bem poderia ser 5 anos, ou 5 meses, ou 13 dias, ou mil e uma noites, sim, poderia – é arbitrário como o nome que carregamos. Mas que beleza é também saber que um ano é também um potente período para nossa querida Terra, essa que nos carrega sem convenções! Que beleza saber que, sem nenhum controle, sem a maior das arbitrariedades, a do mercado, sem saber quem é papai noel, Cristo ou que a palavra reveillón caiu de pára-quedas por aqui e o orixás nem se importaram, sem saber que é hora de ser generoso ou de rever a família, a nossa natureza dá uma volta em si mesma, dentro da Terra, e se revê no mesmo ponto depois de 4 estações, e, no entanto, nada será como antes. Que beleza saber que, depois de 365 dias ou mais, localizado no mesmo ponto em relação ao sol, você, no entanto, já não está no mesmo lugar, ano após ano. Deve haver algo de muito potencialmente transformador nisso, não acham?
Fico cá a me perguntar...
Então, meus queridos que aguentaram minha incapacidade de síntese até aqui, lhes mando essa palavras, desde uma das esquinas do Brasil, para aonde caminho para ver sair o sol sair mais forte que no ano anterior, a cada duas voltas da terra em volta de si mesma, prá ser transformada e pensar no tempo que passou. E daqui de onde estou já re-vi algumas coisas: por exemplo: que quem tem um passado já é um felizardo. Que quem tem um ano pela frente é um afortunado. E que quem tem amigos com quem estar nesse ano que vem - depois de já ter desfrutado deles no ano que passou - tem mesmo tudo. Obrigada a todos que caminharam comigo nesse 2007, e que também me permitiram estar por perto das suas próprias buscas de um bom lugar ao sol. Um abraço bem apertado.

Fortaleza, 23/12 de 2 mil e 7.