Dois mais dois no mato
“(...) é que vivo meiada pela política e pela arte. Pelo fluxo e pelo jogo. Pelo instinto e o culto. Sou traço sinuoso de cálculo e de sorte. Pode? Dividida, por um lado: holístico todo recorte. Maculada permissiva lancinante. Rogada de muito vacilante. Integrada às vezes por inteiro. Fractada pelas bordas cem meios termos. Estratégica virginiana sem rateio e também a máxima anti-cartesiana em pleno alto mar. Acordo com plena consciência de quanto tempo passou enquanto dormia. E em também pleno dia não sei se é tarde ou noite. Perco as contas de quanto desejo e desisto. Todo dia penso e dispenso. Abandono e me jogo. Descarto e resgato. Colo e descolo. Então, de repente: vírgula e ponto. Dois prá lá e dois prá cá, nunca o fim, mais ou menos sempre no meio de dois pontos. Podia dizer, se já não tivesse dito: Sou um pretensioso nada. Um discreto acerto. Um convincente vazio. Um poderoso cotidiano cheio de dias inúteis prá alguém. Um canteiro sem obra. Flerto com quase todas as coisas da ignorância. Crio toda uma situação para não dizer a que vim. E talvez me acometa toda a ingenuidade da sapiência. Sou essa coisa nobre e ‘lesco lesco` de querer entender. Que empolga e desgasta. Por vezes sem fim. (...) "
Bárbara Mercúrio - “O vôo e o cego” in “The weight of my words”
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