Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

sábado, maio 24, 2008

O grilo


Jules era um garçon desconfiado

Escéptico, dizia ele.

Siempre una disposición para contrários

Um gracejo

Jules sempre tinha um comentário a mais

Un vistazo antes

Uma dúvida por via

Das duas, nenhuma

Jules tinha um grilo

Em casa

Que consultava antes de sair

segunda-feira, maio 19, 2008

O medo do sincretismo é o medo da diferença

Mas já disse uma vez Salman Rushdie que sem

"o hibridismo, a impureza, a mistura, a transformação
que vem de novas e inusitadas combinações de seres
humanos, culturas, idéias, políticas, filmes, canções (...)
a novidade não entra no mundo.”

(in Hall, 2003:34)

Nem sempre a novidade vem dar na praia.


A difícil arte de colocar os pés no chão

"Não podemos jamais ir para casa, voltar à cena primária enquanto momento esquecido de nossos começos e 'autenticidade', pois há sempre algo no meio. Não podemos retornar a uma unidade passada, pois só podemos conhecer o passado, a memória, o inconsciente através de seus efeitos, isto é, quando este é trazido para dentro da linguagem e de lá embarcamos numa (interminável) viagem. Diante da 'floresta de signos' (Baudelaire), nos encontramos sempre na encruzilhada, com nossas histórias e memórias ('relíquias secularizadas, como Benjamin, o colecionador, as descreve) ao mesmo tempo em que esquadrinhamos a constelação cheia de tensão que se estende diante de nós, buscando a linguagem, o estilo, que vai dominar o movimento e dar-lhe forma. Talvez seja mais uma questão de buscar estar em casa aqui, no único momento e contexto que temos..."

Richart Hoggart - The uses of Literacy

domingo, maio 04, 2008

Uyuni

No último momento, um beijo com cheiro de sal. Estávamos ali os dois na estação do nosso amor, retardando a despedida de um encontro que se dera nos últimos dois minutos. Faltavam dois minutos. Eu te olhei e me perdi: percebi onde dormia teu coração. E foi uma rasteira do chão, minha gravidade mudou. Uyuni se movia. Precisei estar na tua boca. Te ataquei porque fui atacado pelo mundo, mudando de rotação. Meridianos e trópicos mudando de eixo. Fui encharcado e incendiado ao mesmo tempo,


Naquele último momento, não sei se você reparou, fiquei segurando teus cabelos pela nuca com força, tentando com desespero, entender teu calibre e acalmar meu derrame no peito, antes de partir. Nossas bocas estavam secas do vento, e agora sei, da gastura da vontade, reprimida naquela noite que não nos encostamos e não dormimos.


Demorou demais prá nascer, e quase doeu, ter dois minutos e aquele beijo no deserto de sal.

Mas você tem que saber o que aconteceu naquele último momento: foi a primeira vez que eu soube para onde ir.