Infância dos privilegiados

“Com quantos palitos de fósforo se faz a fogueira da alegria universal?

E com quanto de vento se mantém uma fogueira?

E com quanto de movimento se mantém o vento ventando,

o cabelo crescendo, os olhos piscando, a fila andando?

“Com quanto de impulso se mantém o entusiasmo dos amantes?

E com quanto de amor se resiste à gravidade imponderável de dividir,

todos os dias, um mesmo planeta?

“Com quantos planetas se constrói um mapa intergaláctico?

E o quanto acreditar em mapas num mundo de analfabetos?

“Com quanto de fé se acende uma vela aproveitada para acender

uma fogueira que promete manter o vento, o impulso, o entusiasmo

e as pontes inter-planetas entre os amantes unicontinentais?

...Mas com quanto de fogo se mantém alguém sozinho

respirando de verdade,

sem prender o fôlego

e sem se confundir com a fumaça?”