Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

sexta-feira, março 03, 2006

A pinça

Acordou pro encontro quando achou, entre os escombros do cômodo amedrontado – por pouco -, uma pinça de pontas afiadas. Par de ferros. Escura do desuso dos anos, esquecida no inventário dos ouros, oportuna – lembrou-se de quando era jóia.

Segurando-a com desajeito entre dedos endurecidos, encontrou-a útil, abriu olho e olho. Alumiou-se de ter os tempos de novo, clarear: Festinha de pirilampas circenses.

Toda nova de passadas, encontrou um futuro cheio de estalos e jeitos. E lembrou-se no peito de quando a cortina tinha cores engomadas.

Mas era agora no cômodo. Obras completas e projetos não durariam. Era agora no cômodo e, por um instante, por um ratito de ponteiros, sentiu a vista poderosa de filtros e lentes - arrecadaria toda a fortuna espalhada da rua, e o asfalto quente, cinza, e concreto, e tudo.

Encantou-se sozinha. Chegou que saberia como preparar uma água nova e cândida, e oxigenada como a boca de uma criança limpa da escandinávia, mesmo sem nada por perto.

E entenderia. :

Com ela teria o modo enviado para regar, sem desafino, um jardim abandonado.