Los mobiles
A criança que ainda vai nascer tem uma pergunta pra me fazer
que recebo num guardanapo amarelado que a promessa encontrou
naquele meu baú de brinquedos acidentados.
Ela faz a pergunta, pede segredo, leio em silêncio.
Desamasso o guardanapo, respiro sem tempo pro pensamento:
Não se preocupe, querida: terá asas.
E vou prá casa, agulha enfiada, escolher um novo guardanapo prá escrever
e guardar até que ela possa me acompanhar com suas asinhas.
Lhe direi:
sim, vamos, mas não esqueça que as asas que são asas não são de purpurina.
Que as asas do futuro não virão nas costas: frente é pra enfrentar:
os poucos de asas terão a liberdade num código cifrado no peito. Hum?
Os poucos, não se esqueça: gente sempre é pouco
quando não é demais.
Mas lá lá longe onde irão as asas não tem pouco.
Lá lá onde não tem vento, só as curvas
nem probleminhas de auto-estima – só coragem, fé, amor de amor.
Música de gente de peito grande pendurada em algodão doce
A gente se diverte.
Mas se você não puder me acompanhar, não se preocupe:
sente e espere: te contarei quando chegar:
Dançei Salomé com Louise no ataque
Dançei nas arábias, com a memória by heart
Devendras, recifes, malineses
Aztecas no oriente de amélie
Tambores de flautistas inteligentes
Esmaguei todas as frutas que escolhi
Até ver sair todo o caldo quente
senti cheiro de coalho
Mas bebi tudinho
Comi todo meu trabalho
E acordei
Lá onde as nuvens não anuviam
Andei sem gravidade em montes de luas
De onde a terra é bem menos redonda
E os guardanapos não se abandonam
À sorte
Mando um beijo e um abraço
E te conto também um segredinho: de lá já mandei cartas
que ainda não devem ter chegado:
“au revoir, mon amour, jusqua quelque demain”.
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