Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Los mobiles

A criança que ainda vai nascer tem uma pergunta pra me fazer

que recebo num guardanapo amarelado que a promessa encontrou

naquele meu baú de brinquedos acidentados.

Ela faz a pergunta, pede segredo, leio em silêncio.

Desamasso o guardanapo, respiro sem tempo pro pensamento:


Não se preocupe, querida: terá asas.

E vou prá casa, agulha enfiada, escolher um novo guardanapo prá escrever

e guardar até que ela possa me acompanhar com suas asinhas.


Lhe direi:
sim, vamos, mas não esqueça que as asas que são asas não são de purpurina.
Que as asas do futuro não virão nas costas: frente é pra enfrentar:
os poucos de asas terão a liberdade num código cifrado no peito. Hum?
Os poucos, não se esqueça: gente sempre é pouco
quando não é demais.


Mas lá lá longe onde irão as asas não tem pouco.

Lá lá onde não tem vento, só as curvas

nem probleminhas de auto-estima – só coragem, fé, amor de amor.

Música de gente de peito grande pendurada em algodão doce

A gente se diverte.

Mas se você não puder me acompanhar, não se preocupe:

sente e espere: te contarei quando chegar:

Dançei Salomé com Louise no ataque

Dançei nas arábias, com a memória by heart

Devendras, recifes, malineses

Aztecas no oriente de amélie

Tambores de flautistas inteligentes

Esmaguei todas as frutas que escolhi

Até ver sair todo o caldo quente

senti cheiro de coalho

Mas bebi tudinho

Comi todo meu trabalho

E acordei

Lá onde as nuvens não anuviam

Andei sem gravidade em montes de luas

De onde a terra é bem menos redonda

E os guardanapos não se abandonam

À sorte

Mando um beijo e um abraço


E te conto também um segredinho: de lá já mandei cartas

que ainda não devem ter chegado:


“au revoir, mon amour, jusqua quelque demain”.

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