A vertigem hollyoodiana da artista desamada chapeuzinho e sua infância
Dou a volta ao mundo prá não andar em círculos
Pé ante pé
saltando abandonos egoístas e lobos-heróis implacáveis
Com um punho fechado e uma mão aberta
Prá não perder o prumo, e abrir as portas certas
Aquela floresta
Prefiro saltitar
Armo um exército de flores prá não endurecer
Nessa guerra de medrosos e sorriso costurado no sexo
Tenho uma cesta de doces.
...
Acredito em uma armadura de carnaval e me lanço sem o escudo, que os heróis estão brincando de casinha, não há o que temer do amor cão.
Mas no caminho tenho fome de verdade e tento a verdade não há o que temer dela a única esplendorosa verdade do peito abro a cesta avançam os cães meu punho fechado escorrega seu murro no ar minha mão aberta desprotege minhas veias abertas mas cadê ela? Os cães vociferam por meus doces perco o tato e outros sentidos escorrego caio levanto escorrego levanto, a verdade escorrega junto, me entrego.
E se aproveitam os cães um banquete juvenil.
...
Como na cegueira branca e desiluminada de Saramago vou despertando do sonho. Vou enxergando as caras cruas da solidariedade de prateleira, uns corpos líquidos de ombros de gesso, um sorriso com dentes implantados a prestação, o prazer tirado a fórceps e deixado órfão, o vazio da cor
Uns artistas sem coração.
...
Tento dormir.
Mas medrosos e feridos dessa guerra de amores bloqueados na infância querem o resto que já nem sei se carrego nesse alaúde de ferro velho, minha cesta.
Estufo o peito prá fazer um escudo de mentirinha. Quem sabe ainda lhes convenço. Quem sabe já morreu. Mas não serve. Ó floresta cruel.
E dou de presente sem resistência o que resta do meu passo prá estranhos que parecem mais confiáveis que os iluminados de Paulo Coelho.
Aqueles alquimistas.
...
Enquanto derrotada no quarto vou tentando engarrafar esse vento confuso na cara que devia trazer a verdadeira alegria.
Clack.
Estão chegando de novo.
<< Home