Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

sábado, outubro 17, 2009

Black Horse


Acabei de acordar de um sonho eletrizante. Chegava na beira do Brasil por uma costa de pedregulhos, em uma versão 2D de um mapa do litoral, montada num cavalo preto por quem eu estava apaixonada. Ele tinha algumas cicatrizes na pele, onde já não nasciam mais pêlos. Tinha umas pernas muito fortes o cavalo, de quem já tinha cruzado dois continentes e chegava a sua terceira sina, alucinado por esmagar sem piedade uns inimigos que não queria me contar quem eram.

Eu tava meio tonta. Como se nunca tivesse dormido. Estranha, como se tivesse saído dum pequeno coma. Não, como se tivesse ficado muito tempo debaixo d’água. E, de fato, tinha a pele bem ressacada, como queimada do sal e iodo, e um pouco de areia nos cabelos, também queimados, embaraçados e muito muito dourados, de sal, imaginei Tinha uma pequena mobília viajando comigo. Bolsas grandes e pequenas, caixas, conchas, pedras, mantos e panos de várias cores, um verdadeiro equipaje cigano. Prá que? Só sabia que queria o cavalo perto de mim. Mas no bolso do vestido que me cobria estava um papelzinho amassado que me deu a maior esperança. Bem pouco legível, comecei pelo lado que tinha uma explicação com mais tinta. Comecei por esse lado. Estiquei o papelzinho, que me explicava em letras bem tremidas que eu vinha mesmo de uma terra submersa de mar de nome ilegível onde havia morado por décadas, como separadora de lodo de estrelas do mar. Separadora de lodo de estrelas do mar! Sacudi a cabeça prá entender isso, e virei o outro lado do papel.