Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

quinta-feira, novembro 23, 2006

A BOMBA


Tentei escrever, tentei te falar, chorei pra você ter pena

penei pra você enxergar meu amor

Você não entendeu


Agora meu amor mudou de língua

fechou o tempo, descorporificou


Mas é ainda maior


que as cartas que você nunca recebeu

que as músicas que você não ouviu

que as letras que você não compreendeu


Não puderam explicar

que agora não há léxico que explique

a bomba de efeito retardado

que o meu amor postergado

tá explodindo nas crianças

que me crescem no jardin de la vie en close

no mundo de mundos de cada estranho

que esbarra na minha sombra se esponja de desejos

no meu desejo gentilmente cedido aos direitos

Meu amor mudou de poesia

Descorporificou

Porque plena de esperanças, tranquei a sala de espera

e abriu-se um gigante salão de danças

em que fiquei sozinha,

num escuro de tudo, testando meu despertar até...

até lá.

Vi bailarem todos os sambas e rocks do choro

cantei em inconsciência todos os mantras

que me fizessem chegar a um oriente

para voltar ao nordeste e tomar xotes novos

e foi

vendo o tango sem elegância

pude com funks selvagens, gregos antigos

guerreiros arábicos: toda uma áfrica de saaras e oásis:

não desprezei nenhuma gota que me ajudasse

a contar essa história da valsa imaterial

de frios na barriga que me dança agora nas pernas.


Percebi cada dia no salão escuro

só pra poder sentir meus dedos descobrirem

uma temperatura diferente

nos cílios de plumas de um novo amor invisível.


Vi alargar-se o espectro das cores


Outro

corpo todo a serviço da falta de gravidade


me sustenta

um silêncio pleno lá fora, nem mais uma palavra:

só o peito se multiplicando em músicas e músicas

cerrando as arestas do pensamento

rompendo os eixos X e Y

prá cortar uma estrada longitudinal

onde os encontros geográficos serão sempre mais

que a terra


prá permitir correr o vento

que te contará


um dia

sem mais nem menos

Que

esse alongamento incomum que tenho nas pernas

é porque encontrei uma coisa preciosa na sala escura


Que
como tentei te dizer

nenhuma língua será capaz de traduzir


Talvez a sua bomba de efeito retardado

te jogando no escuro todo a anos de luz


Quem sabe

Te brinde com um segundo dessa sensação maravilhosa.


Desejo esse segundo

Mais do que 16 070 400 primeiros momentos

de incompreensão


Te ofereço meu corte longitudinal

para permitir passar esse vento

esse que será talvez capaz de soprar

um souffle


Te tornar pura consciência
(sem um átimo de esforço)

do que nenhuma língua esperântica seria capaz de traduzir

e que eu só cheguei perto de conseguir quando te contei

que acreditava em tudo.