Pororoca dreams
Tua presença entra duplicada em mim
Por um olho dançam líquidos cristalinos e doces.
Cheiros nutritivos, tecidos de pêlos e aconchegos. Atração, magnetismo.
Pelo outro outro olho me enfrentam água salgada, gota de limão, succção pra fora, limpeza.
Adstringência e assepsia
que te distanciam de mim e me jogam na vida, preparada.
Tua imagem entra duplicada em mim
Invertida em um olho e integrada no outro
Apocalíptica em um olho, conservadora no outro
Mas aceito e me sento para assistir
Porque a presença da tua imagem
tem a dinâmica da história do mundo: atração e desapego, abraço e desenlace.
Incômodo e encaixe
Fluidez e entrave
Apaziguamento e embate
Encontro, discordância
Você não sabe, ou sabe bem
é por isso que te olho atenta,
nessa manhã ainda escura,
com globos, pupilas, retinas, íris e cílios duplicados
É porque tua imagem, ou o que ainda não é visto, mas previsto
sem medo de exagerar ou de faltar,
carrega em filme não re-velado
o futuro e a origem da vida
a memória e a promessa de que as coisas existem
O eterno retorno do desejo de enraizar-se
e de fugir do mundo
de ser tragado e cuspido dele
O casamento eterno
e provisório
da terra e do ar
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