Blog de frestras. Não é diário íntimo. Para jogar as imperfeições no circo, desentupir excessos, fazer uma calçada.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Pororoca dreams

Tua presença entra duplicada em mim

Por um olho dançam líquidos cristalinos e doces.
Cheiros nutritivos, tecidos de pêlos e aconchegos. Atração, magnetismo.

Pelo outro outro olho me enfrentam água salgada, gota de limão, succção pra fora, limpeza.
Adstringência e assepsia
que te distanciam de mim e me jogam na vida, preparada.

Tua imagem entra duplicada em mim
Invertida em um olho e integrada no outro
Apocalíptica em um olho, conservadora no outro

Mas aceito e me sento para assistir

Porque a presença da tua imagem
tem a dinâmica da história do mundo:
atração e desapego, abraço e desenlace.
Incômodo e encaixe
Fluidez e entrave
Apaziguamento e embate

Encontro, discordância

Você não sabe, ou sabe bem
é por isso que te olho atenta,
nessa manhã ainda escura,
com globos, pupilas, retinas, íris e cílios duplicados

É porque tua imagem, ou o que ainda não é visto, mas previsto

sem medo de exagerar ou de faltar,
carrega em filme não re-velado
o futuro e a origem da vida
a memória e a promessa de que as coisas existem

O eterno retorno do desejo de enraizar-se
e de fugir do mundo
de ser tragado e cuspido dele

O casamento eterno
e provisório
da terra e do ar